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Bom Pra Cachorro: México homenageia pets falecidos em celebração às vésperas do Dia dos Mortos

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Bom Pra Cachorro: México homenageia pets falecidos em celebração às vésperas do Dia dos Mortos

Uma das principais celebrações do México, o Dia dos Mortos –ou Día de Muertos— é encarado de forma alegre e colorida para lembrar e honrar a memória de quem já se foi. A programação, que começa no fim de outubro e vai até 2 de novembro marcada por altares, música, comidas e bebidas preferidas do homenageado, se estende aos pets.

Anualmente, os animais de estimação que já morreram são lembrados no dia 27 de outubro, quando, conforme tradição que ganhou força a partir de 2019, suas almas voltam para visitar o lar. Por isso, de acordo com a crença, são deixados brinquedos, comida e flores para agradecer sua companhia.

O jornalista mexicano Ricardo Dávila, que mora na Cidade do México, explica que a relação entre cães e o Dia dos Mortos atravessa o tempo e tem raízes mais profundas do que parece. Leia abaixo o relato:

A comemoração aos cães nas vésperas do Dia dos Mortos tem raízes mais profundas do que parece. Atualmente no México, 27 de outubro é considerado o dia em que se coloca oferenda aos cães ou animais de estimação falecidos. Mas desde os tempos pré-hispânicos, diferentes culturas mesoamericanas —como a mexica, a maia e as do oeste do México (fases Ortices, Comala e Colima)— estabeleceram um vínculo simbólico entre os cães e a morte.

Na cultura mexica, que floresceu entre 1325 e 1521, surgiu o conceito do Mictlán, o submundo, onde as almas empreendiam uma jornada de nove níveis. O deus Xólotl, gêmeo de Quetzalcóatl e senhor do relâmpago e do ocaso, guiava os defuntos para esse destino. Frequentemente era representado com traços de cão ou figura esquelética, símbolo da transição entre a vida e a morte. O xoloitzcuintle, seu animal associado, ajudava as almas a atravessar o rio do Mictlán: era seu fiel companheiro e guia.

Entre os maias, a ideia do submundo —o Xibalbá— começou a se formar desde o pré-clássico médio (1000 a.C.– 250 d.C.) e se consolidou durante o clássico (250–900). Em sua iconografia, o cão aparece com uma função psicopompa, ou seja, como guia de almas: transporta o deus do Sol ou do milho em uma canoa através das águas do submundo. O conceito reflete a crença em um ciclo de morte e renascimento.

No Ocidente do México, as culturas das fases Ortices, Comala e Colima (500 a.C.– 600 d.C.) também deixaram testemunho dessa conexão. Nas tumbas de poço, os arqueólogos encontraram vasos e estatuetas em forma de cão, algumas representadas em movimento ou “dançando”. Essas peças, elaboradas com grande naturalismo, aludem à companhia do cão no além.

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Hoje, essa antiga relação entre humanos e cães renasce nos altares do Dia dos Mortos. Yuki, cujo nome significa “neve” em japonês, foi o primeiro animal de estimação da família Bahena. Fugiu e faleceu em 2024, ano em que lhe colocaram pela primeira vez uma oferenda, relata Estefanía Bahena, jornalista mexicana. No altar, ela dispôs os alimentos que Yuki costumava apreciar, além de água, flores de cempoalxóchitl [tradicionalmente usada nas celebrações do Dia dos Mortos] e sal.

Também acendeu incenso e adicionou papel picado de diferentes cores. Estefanía se encarregou de preparar a oferenda em nome de toda sua família, pois os demais estavam tristes demais para fazê-lo. Um detalhe especial foi que ela encontrou papel picado personalizado e colocou o nome de seu animal de estimação sobre o altar. “É a primeira vez que faço uma oferenda para alguém próximo”, comenta.

Morton era um cão maltês que faleceu em 3 de julho deste ano. Viveu 15 anos, dos quais oito compartilhou com a família Coronel, que o adotou quando tinha sete. Foi resgatado de um lugar onde sofria maus-tratos, segundo conta Remy Coronel, funcionário público mexicano. Ele e sua família descobriram que, segundo a tradição, a oferenda para os animais de estimação falecidos é colocada em 27 de outubro.

No altar onde repousam as cinzas de Morton, colocaram suas coisas favoritas: petiscos e camarões; além de água, velas e fotografias. Como símbolo especial, adicionaram uma pulseira que Morton costumava morder, uma forma de conservar o vínculo com sua memória.

Embora a celebração do “dia do animal de estimação falecido” seja recente —surgiu por volta de 2019 a partir de uma campanha publicitária—, foi adotada por muitas famílias mexicanas que desejam prestar tributo aos seus animais de companhia.

Não é coincidência que na praça Zócalo da Cidade do México recentemente foi instalada uma “mega oferenda” cheia de flores de cempoalxóchitl e ornamentos. Destacam-se grandes figuras de esqueletos comemorando a tradição do Dia dos Mortos. Mas igualmente se destaca a figura de um xoloitzcuintle de grandes dimensões (aproximadamente 4 metros de altura).

A comemoração dos cães em torno do Dia dos Mortos conecta a tradição pré-hispânica com a época atual. Ao longo do tempo, os “lomitos”, como são conhecidos no México, têm acompanhado as pessoas no México e estabelecido uma relação íntima a ponto de se tornarem seres vivos cuja memória permanece e se presta homenagem de maneira histórica.

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